Se Marx se perguntasse, hoje, 'quem educa os
educadores', enfatizaria a formação intelectual, política, cultural e
libertadora do educador e não realçaria a figura do professor ou do instrutor
limitados por alienantes currículos. Marx não imaginaria, porém, que, num
contexto de circunstâncias manipuladas, o conceito de educador pudesse ser
corrompido pelo capital, fazendo com que o perfil do educador pudesse ser
comparado a um tipo de empresário, de um comerciante ou de um sofista da
educação.
A própria sociedade brasileira já não faz a
diferença entre o educador e o mercenário da educação graças à mídia que
sustenta, massifica e fortalece essa espécie de comércio de informações,
conhecimentos e diplomas na lógica neoliberal que se apropriou espertamente dos
conceitos democráticos, humanistas e universais para fazer valer suas
ideologias de mercado e de consumo.
Mas, se os educadores não estão sob os holofotes da
mídia, por onde andarão e o que estarão fazendo que não rompem com a
invisibilidade a que estão submetidos pelo sistema oficial, pelos 'donos' das
escolas e das universidades, pelas elites que se sentem incomodadas com a
práxis da libertação de consciências e de sentimentos que formam homens e
mulheres livres para reinventar a democracia brasileira?
Os educadores estão espalhados pelas comunidades
periféricas, pelas universidades, pelas escolas fundamentais e médias e por
todos os lugares em que seja necessária a presença de um educador – docência,
imprensa, saúde, trabalho, política - para decifrar o mundo, interpretá-lo e
transformá-lo pelo conhecimento e pela cultura, pela razão e pela emoção,
utilizando-se para isso da cotidianidade comum a todos.
Se a sala de aula é identificada por uma relação
dialógica, de perguntas, interrogações, questionamentos, a resposta exige tempo
de estudos, de reflexões, de pesquisas, de se preparar política e culturalmente
para responder aos interlocutores na família, na rua, na sociedade. É a
educação continuada e permanente para a autonomia intelectual e política para o
discernimento e para a lucidez.
É o caso da professora de Salto de Pirapora (SP)
que vasculha o cotidiano por meio da leitura de jornal bancado também pelos
seus alunos de duas turmas de 6ª série mediante 'vaquinha' que paga a
assinatura que não cabe mais no bolso da mestra. Pela via do jornal e de outras
mídias há todo um processo de leitura, compreensão e interpretação de textos ou
da palavra transformadora de circunstâncias e mais a reflexão crítica de
tendências políticas, econômicas e culturais da mídia convencional e
alternativa que objetiva, no processo de ensino e educação, a formação de um
leitor sem cabrestos ideológicos.
No Para e no Amapá, a leitura do jornal em sala de
aula revela a excelência profissional de muitos professores por um trabalho de
qualidade pedagógica que os aproxima inclusive, das comunidades. O Programa 'O
LIBERAL na Escola' recolhe há anos relatos e testemunhos de como se faz ensino
com educação em sala de aula, como uma aula é oxigenada pela realidade do
entorno da escola, como o professor se transforma num educador, num orientador
e num sábio disponível para transformar as misérias humanas, sociais,
econômicas dos alunos em um mundo de maiores possibilidades humanas.
São esses professores de Belém, Macapá, Castanhal,
Santarém, Rio de Janeiro, São Paulo que anonimamente, invisíveis para os
sistemas, sem quaisquer recursos materiais modificam o rotineiro ensino num
trabalho coletivo de educação em que crianças, adolescentes e jovens aprendem a
pensar, a falar, a agir, a dirigir-se ao outro sem medo e sem controladores
escolares que lubrificam a manutenção dos amortecedores sociais.
São esses educadores que se educam pelos saberes
populares e com eles compartilham conhecimentos, abrem perspectivas de mundo
para milhares de crianças, adolescentes e jovens, e não se deixam seduzir pelas
elites dominantes que privatizam o conhecimento para evitar que o povo seja o
dócil rebanho dos colonizadores neoliberais.
Meirevaldo Paiva é educador
Artigo publicado no jornal O Liberal (11.02.2008) http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/artigos/educadores-libertados
Artigo publicado no jornal O Liberal (11.02.2008) http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/artigos/educadores-libertados
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