A
ciência moderna e os estudos estão num avanço tal que chegam a interferir na
concepção do ser humano, desnaturalizando-a, interferindo até na construção do
sentimento de maternidade. Tem-se a preocupação de desenvolver e instigar a
todo o momento os potenciais das crianças desde o seu nascimento.
A mãe
de um bebê recém-nascido, a princípio, interessava-se pela sua alimentação,
vacinas, sono, etc. Hoje, os pediatras comentam que algumas das questões
maternas giram em torno da cor com que o quarto deve ser pintado para maior
estímulo ou, ainda, quais os brinquedos que mais aguçam o raciocínio e a
percepção. É sabido que as novas preocupações com as necessidades de um bebê
permeiam essas questões.
Espera-se
que esse indivíduo, desde pequeno, mostre autonomia e autoria, que são
pré-requisitos para o seu bom engajamento na sociedade contemporânea. Postura
crítica, iniciativa, capacidade de análise, competências e habilidades são
necessárias a uma adaptação mais eficaz em um mundo de contínuas mudanças. Para
algumas crianças, esse entorno que tanto lhe exige desde pequenas apresenta-se
agressivo de tal forma que as amedronta, interferindo no seu desenvolvimento.
Por
vezes percebemos a criança dividida, segmentada, com a conivência de pais
confusos. Há preocupações específicas relativas a um corpo sadio e forte, a uma
mente voltada à cultura, ao intelecto competitivo e a uma formação acadêmica em
escola competente, que visam mais às boas universidades que aos bons cidadãos.
É fato,
entretanto, que há um despertar para a necessidade do olhar mais humanista e
que podemos ter o prazer de deparar com algumas escolas que vivem dentro desse
posicionamento, em que o outro é olhado como ser integral. #Isso não elimina a
necessidade de atuar de forma consciente na capacitação dos indivíduos para o
momento culturalmente exigente que se vive.
São
tantos investimentos de profissionais especialistas na formação das nossas
crianças que, além da divisão desse indivíduo em fragmentos independentes, a
família acaba perdendo a autonomia. Fica perdida, seguindo várias orientações
centradas em diferentes áreas. Cada vez mais ocupada e sem o tempo necessário
para discernir e opinar de maneira reflexiva entrega a formação dos filhos a
profissionais que nem sempre garantem o vínculo tão necessário ao
desenvolvimento dessa criança.
Frente
à constatação de tantas mudanças, questiono: que pessoas estamos formando? Onde
estão os afetos, pilares insubstituíveis para a construção da estrutura
interna, que hoje circulam dentro de um ambiente familiar cada vez mais
distante e restrito?
Sabemos
que o conceito de como educar uma criança vai sendo alterado de acordo com o
entorno cultural e social onde ela está inserida. Esse contexto faz parte da
história do desenvolvimento e das relações por meio das quais o sujeito se
constitui. Vale lembrar que não tem fim é um processo que acontece de forma
subjetiva em cada indivíduo de acordo com interferências sociais e culturais.
O ser
humano é susceptível e absorve as influências do meio onde está inserido. Nessa
troca, acontece então o aprender. Quando nos referimos ao aprender,
subentende-se que exista algo ou alguém que aprende — o aprendente — e algo ou
alguém que ensina — o ensinante.
Os
ensinamentos iniciam-se nos primeiros contatos tão próximos com a mãe. Quem são
os demais ensinantes na vida de um sujeito? Esse lugar é ocupado pelo pai, irmãos,
tios, avós, colegas, professores e todo o círculo de convivência que faz parte
do meio que nos cerca.
O
aprender está conectado ao conhecimento. É preciso relacionar-se com o outro
para colocá-lo no lugar de ensinante e estabelecer uma relação permeada pelo
vínculo para que se possa entrar em contato com o conhecimento por ele
oferecido.
Entre o
ensinante e o aprendente, abre-se um campo de diferenças onde se situa o prazer
de aprender por intermédio do estabelecimento de uma relação vincular. Para que
o sujeito aprenda, é necessário conectar-se com seus próprios conteúdos,
mostrar seu conhecimento, autorizar-se a abrir ao outro e, assim, incorporar
seus ensinamentos.
O
conhecimento prévio, fruto das vivências de cada um, faz parte do processo
interno desse sujeito. Ele é acrescido de novas informações e transformado,
para que possa ser vivenciado e incorporado.
Ensinar
aprendendo, essa é a grande estratégia
O
ensinar e o aprender caminham juntos. Mais do que ensinar conteúdos, ser
ensinante está atrelado a abrir caminhos. Não se transmite conhecimento, mas,
sim, sinais deste, para que o outro possa fazer uso dele e transformá-lo de
forma subjetiva.
O
desejo e a vontade atua como diferenciais no processo, autorizando e fazendo
uso de diferentes ferramentas oferecidas para que se tornem instrumentos na
construção do conhecimento e se alcance o objetivo final.
O
orientador sensível instiga, preserva a autonomia e a liberdade responsável e
propicia, assim, o diferencial no processo, isto é, a alegria da descoberta e a
autoria do próprio conhecimento, trazendo as garantias para o verdadeiro
aprender.
Ser um
educador é um trabalho nada fácil, com um grande objetivo a ser alcançado.
Segundo Paulo Freire (1993), se o educador tem uma opção democrática, com autocrítica e procura diminuir a distância entre o discurso e a prática, ele “vive uma difícil, mas possível e prazerosa experiência de falar AOS educandos e COM eles”.
Cecília Faro
Fonte: www.educacional.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário